Cidades ativas são mais saudáveis

Tiago Peçanha – Profissional de Educação Física. Pesquisador e Pós-doutorando do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP. Pós-doutorando no Research Institute for Sport and Exercise Sciences da Liverpool John Moores University, UK.

Contato: pecanhatiago@gmail.com      Twitter: https://twitter.com/tiagopecanha

 

A inatividade física é um dos principais fatores de risco modificáveis para o surgimento de doenças crônicas não-transmissíveis, que são as principais causas de morte no mundo. Estima-se que 30 a 40% da população mundial não atinja as recomendações de atividade física da Organização Mundial de Saúde, sendo que esta proporção é ainda maior em adolescentes e idosos. Além de aumentar a morbimortalidade da população, a inatividade também trás impactos econômicos importantes, com estimativas que possa gerar um custo de mais de 50 bilhões de dólares por ano aos sistemas de saúde.

Diversos fatores contribuem para os baixos níveis de atividade física da população, e um aspecto que tem sido muito discutido nos últimos anos é a importância do ambiente construído. O ambiente constuído se refere aos ambientes feitos pelo homem e que dão condição para as atividades humanas. Exemplos incluem prédios, ruas e calçadas; sistemas de transporte; praças, parques e outros espaços verdes; bairros, cidades e toda a infra-estrutura de suporte, como redes de esgoto e de energia.

Embora este seja um conceitos amplos e que possui aplicações específicas em diferentes áreas do conhecimento e da atividade humana, é sabido que características do ambiente construído afetam os níveis de atividade física de uma população. A presença de calçadas amplas e seguras, de ambientes verdes e esteticamente prazerosos e proximidade com ciclovias e parques públicos favorecem a mobilidade urbana e a prática de atividade física, seja de transporte ou de lazer. Por outro lado, ambientes pobres em áreas verdes, com calçadas estreitas e/ou mal pavimentadas, baixa iluminação e com alta circulação de carros e poluição afastam as pessoas da atividade física.

Nas últimas décadas, em muitas cidades do mundo o poder público tem agido de forma a construir uma infra-estrutura que favoreça a mobilidade urbana e a prática de atividade física.  Um bom exemplo nesta linha é a construção de ciclovias e o estímulo à utilização de bicicletas. Um estudo de caso interessante é o da cidade de Amsterdã, nos Países Baixos. Em Amsterdã, 58% dos adultos usam a bicicleta diariamente (sendo que em 38% esta é a principal forma de transporte) e existem cerca de 800 km de ciclovias espalhados pela cidade. Além disso, estimam-se que existam 880 mil bicicletas em Amsterdam, o que faz com que o número de bicicletas seja maior que o da prórpia população total da cidade (aproximdamente 800 mil). Além de favorecer a mobilidade urbana sustentável, a prática do ciclismo trás inúmeros benefícios de saúde aos holandeses. Estima-se que o ciclismo previna 6500 mortes por ano e que promova o aumento da expectativa de vida em 1,5 anos entre todos os holandeses.

Com a pandemia do COVID-19, muitas cidades europeias também passaram a estimular o ciclismo para evitar a aglomeração de pessoas nos metrôs e ônibus. É possível que estas políticas públicas tragam beneficios de saúde adicionais ao controle da pandemia. Em um momento em que as pessoas estão sendo orientadas a não se aglomerarem em locais fechados, é possível que aspectos da infra-estrutura urbana passam a ser repensados de forma a favorecer a prática de atividades físicas no ambiente externo.

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